A gaiola e a borboleta *
*Luiz Caversan*
Não adianta você construir uma gaiola de ouro para colocar dentro dela uma
borboleta. Mesmo que elas sejam lindas e elaboradas com o metal mais
precioso, as barras haverão sempre de aprisionar e vão impedir que ela, a
borboleta, siga seu caminho em liberdade.
Em tempos de excesso de informação, já não me lembro mais se fui eu mesmo
quem pensou nessa metáfora razoavelmente ingênua, ao me defrontar com uma
situação real recente, ou se li em algum lugar, escrito por alguém, que
poderá ter ouvido ou lido de outrem.
Não importa, o fato é que saber apreciar a liberdade é uma arte, diga-se das
mais difíceis.
O encanto, a beleza, a delicadeza da borboleta só existem em liberdade,
senão necessariamente deixarão de sê-lo. No momento mesmo em que se
aprisiona o bichinho, ali começa o processo de deterioração de tudo o que de
mais magnífico ele possui, e a morte é inexorável.
A situação recente a que me referi acima é, ainda uma vez, a de relações
humanas, sempre difíceis e desafiadoras.
Eu quero, eu adoro, eu venero, portanto vou construir uma gaiola de ouro
para a minha borboleta, seja ela quem for. E a ela vou oferecer toda a
fortuna que me custaram as barras de ouro e todo o carinho com que a gaiola
foi construída. Mas quando me darei conta de que não estou fazendo nada mais
do que sufocar a liberdade imprescindível à existência de qualquer amor?
O duro é deixar a borboleta ir.
Passar a observar seu vôo à distância, contemplar seu vai-e-vem errático
dando a ela o direito de flanar para onde quiser, ainda que para muito
longe, quem sabe com outras companhias, levando o que o amor verdadeiro tem
a oferecer: bons augúrios, boas lembranças e até qualquer hora dessas, baby.
Amar pensando em oferecer gaiolas de ouro não tem segredo: basta dedicar-se
com afinco à ourivesaria da possessividade.
Mas saber apreciar desapegadamente o vôo delicado da borboleta, isso é para
poucos e bons.
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