CRIAÇÃO
DO UNIVERSO, EVOLUÇÃO DOS SERES VIVOS
E O
PENSAMENTO RELIGIOSO
Warwick
Estevam Kerr
Para aqueles que professam uma
religião cristã, há três maneiras de interpretar os primeiros capítulos do
Gênesis. A primeira, que chamaremos LITERAL, é crer que, realmente o universo e
todos os seres vivos foram criados separadamente, por atos independentes,
miraculosos, em seis dias ou seis períodos. Tal modo de pensar sofre forte
antagonismo por parte da grande maioria dos biólogos e físicos, que acreditam
na teoria da evolução.
A segunda, chamada MODERNISTA,
é aceita por aqueles cristãos que não consideram a bíblia como SENDO a palavra
de Deus, mas como a CONTENDO. Para este grupo, a única idéia realmente
importante do primeiro capítulo de Gênesis é aquela contida no primeiro
versículo: “E no começo Deus criou os céus e a terra”. Argumentam assim: -Quem
criou ? Deus. Como criou ? Procuram aplicar a ciência moderna ao estudo da
natureza a fim de descobrir. Para o cristão modernista, o estudo da evolução é
a história da criação, é o estudo da maneira na qual Deus criou o universo.
A terceira maneira é chamada
ALEGÓRICA, em que tentamos acoplar sobre o texto bíblico uma interpretação
baseada nos achados científicos. Os partidários da maneira LITERAL e os da
maneira ALEGÓRICA podem ser chamados de cristãos ortodoxos, isto é, pessoas que
aceitam a bíblia como SENDO a palavra de DEUS. Como a maneira alegórica é mais
complexa e também aceita por cristãos ortodoxos com cultura biológica sólida,
vamos expô-la aqui com detalhes. Gostaria, entretanto, que ficasse claro que
aceito a interpretação modernista, não obstante ter o máximo respeito por
aqueles que preferem a maneira alegórica.
A interpretação
alegórica
É comum, tanto no velho como
no novo testamento, o ensino de lições por meio de linguagem figurada ou de
histórias que chamamos de parábolas. A bíblia começa e termina usando linguagem
figurada. As três parábolas iniciais são: a história da criação, a história do
dilúvio e a história da torre de Babel. O principal objetivo da história da criação é ensinar a todos que
universo foi criado por Deus e por isso começa com aquela frase cheia de vigor,
poder e de fé: “No começo criou Deus os céus e a terra” (Gen 1:1). Apesar de não ter sido
intenção dos escritores de Gênesis ensinar ciência, a parábola da criação pode
ser interpretada, face aos dados científicos que conhecemos hoje, de uma
maneira alegórica, em que atribuímos a cada trecho do livro de Gênesis uma
correspondência ao que ocorreu na evolução do nosso universo, segundo a ciência
moderna. O Dr. George Abell, astrônomo da Universidade da Califórnia (Los
Angeles) calculou a idade do universo, comparando a velocidade da recessão de
grupos gigantes de galáxias, com as distâncias entre eles. Concluiu que a idade
do universo é ao redor de 15 a
20 bilhões de anos. É o dado existente que mais reforça a idéia da eternidade
de Deus. Para iniciar, vamos dividir os
20 bilhões de anos, que é a idade do universo em 7 períodos.
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PERÍODO: “E disse Deus: Haja luz. E houve luz” (Gen 1:3)
Há mais ou menos 15 bilhões de
anos, Deus disse: “Haja luz”. Houve então uma fantástica criação de radiação,
quentíssima, luminosíssima, concentradíssima, que expandiu com grande
violência. Nos 300.000 anos após essa fantástica explosão, a massa do universo
consistia quase que somente de radiação, e havia grande interação entre
radiação e matéria. Este período é chamado pelos cientistas (por exemplo Oort,
1970) de estágio “bola de fogo”. Nesta época matéria e radiação se separaram e
a matéria se espalhou voando para todos os lados. Muitos destes “pedaços” de
universo original transformaram-se em galáxias, astros, sóis, nuvens cósmicas,
asteróides, etc.
Em 1974, o Dr. Allan Sandage
(do observatório astronômico de Hale) e o Dr. James Gunn (do Instituto
Tecnológico da Califórnia), dois astrônomos americanos, chegaram à conclusão de
que nosso universo que, há 15 bilhões de anos atrás iniciou-se com uma tremenda
explosão, continuará expandindo-se para sempre. Isso quer dizer que eles
demonstraram que nosso universo é aberto.
Passados milhões de anos, numa
das galáxias, que hoje chamados de Via Láctea, de um dos seus sóis soltaram-se
alguns planetas dentre os quais um deles é a nossa Terra. Assim que se soltou
do sol e entrou em órbita, a Terra girava como um pião ao redor do seu próprio
eixo. Esse movimento de rotação fazia a separação entre a luz do sol (dia) e as
trevas (noite).
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PERÍODO: “...e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e
as águas que estavam sobre a expansão” (Gen 1:7)
A Terra era muito quente e
assim toda a água estava sob a forma de vapor. Conforme os anos foram passando,
a Terra foi se resfriando, até que um dia começou a chover.
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PERÍODO: “E disse Deus: ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar e apareça
a porção seca. E chamou à porção seca
terra e ao ajuntamento de água chamou mares” (Gen 1:9)
A Terra, esfriando-se mais,
começou a se enrugar, os continentes começaram a se movimentar e a dar formação
às montanhas e às planícies. As águas drenavam-se pelos riachos, igarapés, rios
e acumulavam-se nas lagoas, mares e oceanos. Assim, houve separação entre águas
e terra. A terra rachou-se, as várias porções se movimentaram, afastando-se e
formando os atuais continentes. Violentos raios produziram novos compostos numa
atmosfera pobre em oxigênio. Estes compostos formados se juntaram nas águas e
muitas vezes originavam compostos mais complicados. Não havia bactérias para
destruir os compostos orgânicos e, assim, eles permaneciam em solução nas
águas. Num certo dia, a primeira molécula de RNA foi formada com a propriedade
de autoreprodução e catálise - estava
criada a vida. Forma-se a seguir o DNA. Mutações e seleção natural passam a
promover a evolução dos descendentes desse pequeno mini ser vivo.,
“E disse Deus:
produza a terra erva verde”(Gen 1:10), ...erva que dê sementes e árvore
frutífera que dê fruto...(Gen 1:11)
Passaram-se os anos e há três
bilhões de anos atrás, as primeiras bactérias e as primeiras algas verdes são
formadas. Evoluem constantemente até chegar à condição de plantas que dão
sementes como nosso pinheiro do Paraná e o Cedro do Líbano. Evoluem ainda mais
e chegam ao nível da plantas superiores que dão fruto (jaboticaba, jaca,
cupuaçu, goiaba, etc.)
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PERÍODO - “E disse Deus: haja luminares na expansão dos céus para iluminar a
terra, para governar o dia e a noite (Gen 1:14-18)
Até este período, o céu era
todo nublado. Porém, uma dia, de tanto chover, de tanto cair água das nuvens,
um pedaço de céu azul apareceu. Naquele dia os raios de sol, das estrelas, o
clarão da lua e dos planetas tocaram a Terra.
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PERÍODO - “E disse Deus: produzam as águas abundantemente e apareçam
répteis(Gen 1:20) e toda ave de asa”(Gen 1:21)
A evolução dos microorganismos
que, de um lado produziu os fungos e as plantas segue também uma outra direção.
Nas águas do mar os primeiros seres vivos animais começam a aparecer. Seguindo o mesmo sistema de evolução, vão
aparecendo os vermes, os anfioxos, os peixes tipo tubarão até peixes como o
dourado, a traíra, o tambaqui, o pirarucu, etc. Os peixes de um dos grupos, por
sucessivas mutações passaram a andar sobre a terra e alimentavam-se de insetos
e plantas. Aqueles cujos sacos aéreos se modificaram e passaram a formar num
pequeno pulmão tiveram grande vantagem. Depois de muitos anos apareceram as
salamandras, os sapos e as rãs. Ate hoje os sapos no início de suas vidas (os
girinos) se parecem com peixinhos e só mais tarde tornam-se sapos adultos e
vivem fora d’água. Para daí apareceram os répteis foi um passo. Evoluíram os
jacarés, os cágados, as tartarugas e alguns répteis voadores como o Pterodáctilus. Em 1974, o estudante
Douglas Lawson descobriu um destes animais, que viveu há 60 milhões de anos e tinha 17 metros de envergadura.
As primeiras aves foram a Archaeopteryx
e Archaernis. Algumas aves
razoavelmente primitivas ainda habitam o Brasil, como o inhambú, a perdiz e a
codorna do mato. As aves primitivas continuam sua evolução pelo processo
adotado pelo Criador: a seleção natural, a mutação, a migração e a deriva
genética, todos conhecidos fatores modificadores da freqüência dos genes e com
o isolamento geográfico e reprodutivo, que provocam a origem de novas espécies.
São pois produzidas as aves modernas como os papagaios, araras, curiós,
pintassilgos, uirapuru, aves do paraíso, etc.
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PERÍODO: “E disse Deus: produza a terra as bestas feras da terra (Gen
1:24-25)... façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gen 1: 26)
Dos répteis evoluem, de um
lado as aves e de outro os primeiros monotremos, dos quais ainda temos, na
Austrália, os ornitorrincos e echidnas. Depois evoluem os marsupiais, como o
gambá, a cuica, a mucura, os cangurus, todos com a interessante característica
de carregarem seus filhinhos numa bolsa chamada marsúpio. Finalmente aparecem,
com útero, os mamíferos do tipo dos cachorros, da anta, da capivara, dos
cavalos, das vacas, dos macacos. Os macacos se originaram de um grupinho de
animais chamados insetívoros, animais mamíferos que, sendo noturnos, não tinham
o sentido da cor. Os macacos brasileiros só enxergam o azul, o verde, o branco
e o amarelo. Porém os macacos superiores como os orangotangos, os chimpanzés,
os gorilas e o homem já enxergam o mundo em tecnicolor, isto é, vêm as cores
vermelho, amarelo e azul e suas combinações. Assim, a maior parte dos animais
estava “pronta”. Há, mais ou menos, dois milhões de anos atrás, um grupo de
macacos africanos começou a evoluir mais do que ou outros, pois usava cada vez
mais o cérebro e as mãos para resolver seus probleminhas. Um belo dia um desses
macacos (Homo africanus) descobriu o fogo. Mais tarde, evoluindo ainda mais sua
mente (Homo erectus) descobriu que
para agüentar o frio podia muito bem fazê-lo matando um animal e usando sua
pele. Evoluindo ainda mais (Homo sapiens neanderthalensis) descobriu que
poderia comer melhor usando flecha, paus, armadilhas, plantações, roças. Com a
invenção e a aprendizagem o homem adicionou uma nova maneira de conquistar
nichos ecológicos, complemente diferente da mutação e seleção natural. Um dia,
o homem pensou pela primeira vez que
tinha um criador e adorou a Deus.
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PERÍODO: “Meu pai trabalha até agora”(João 5:16-18)
Diz Gêneses, que após haver
criado o homem, Deus descansou (Gen 2:2-5). Esta frase é antropomorfismo, já
que Deus não se desgasta, não cansa. Jesus reafirmou isso ao falar “meu pai
trabalha até agora”. Portanto, dizemos que a evolução é contínua: a explosão de
15 bilhões de anos atrás continua ainda fazendo com que os pedaços do universo
voem para todos os lados. Somos um universo em contínua expansão para o
infinito.
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